Consultando as efemérides desta semana, me deparo com a sempre necessária menção ao aniversariante de amanhã, Carlos Drummond de Andrade, nascido em 31 de outubro de 1902 (em Itabira, MG).
Para minha sorte ('sorte' de quem ainda visita boas bibliotecas, ao invés de facebookar o tempo todo), esta semana eu arrumei um tempo para ler um capítulo do livro 'Prosadores e Poetas na Bahia', do dulcíssimo presidente da Academia de Letras de outra época da Bahia, Claudio Veiga, sobre Pedro Kilkerry, que tem esse nome por uma feliz intercorrência irlandesa na história de nosso estado (diz a lenda que em 2016 poderemos contar esta estória com mais detalhes…).
Kilkerry, com precisa pena, nos é informado por Claudio Veiga como o mais brilhante poeta baiano do início do século passado, seja pelos seus apoiadores, seja pelos detratores.
Não contem para os paulistas, mas eu gosto mais de Kilkerry do que de Augusto de Campos, o re/conhecido concretista que merece o agradecimento dos baianos por ter recolocado o baiano de Santo Antonio de Jesus na cena nacional com o livro 'Re-visão de Kilkerry' (de 1970).
Segue um poema selecionado de Pedro Kilkerry:
Cérbero
É, não vens mais aqui… Pois eu te espero,
Gele-me o frio inverno, o sol adusto
Dê-me a feição de um tronco, a rir, vetusto
– Meu amor a ulular… E é o teu Cérbero!
É, não vens mais aqui… E eu mais te quero,
Vago o vergel, todo o pomar venusto
E a cada fruto de ouro estendo o busto,
Estendo os braços, e o teu seio espero.
Mas como pesa esta lembrança… a volta
Da aléia em flor que em vão, toda transponho,
E onde te foste, e a cabeleira solta!
Vais corações rompendo em toda a parte!
Virás, um dia… E à porta do meu Sonho
Já Cérbero morreu, para agarrar-te.
Quem eu não conhecia e 'se me apareceu' na rota da Aliança Francesa (de onde peguei o livro de Claudio Veiga), foi o ativíssimo Rafael Pugas, que segue a longa tradição do Recôncavo da poesia oralizada em ambientes públicos. Curtam (ops, com e sem trocadilho) este seu poema, que já 'habita' o tal de Facebook:
“Eu quero um poema que nos alegre o dia
que traga harmonia sem fugir do tema…
Nos traga de volta o dom de sorrir
e mesmo com dores nos ponha na vida
se abra pro mundo numa dividida
que ponha pra fora sem mais reprimir…
Não quero a resposta de toda pergunta
nem a solução do fim da labuta
eu quero sem medo falar do anseio
descer a ladeira sem tocar no freio
eu quero poder de novo esperar
um novo começo, promessa de lar…
Se pra isso é preciso uma revolução
não vou me esconder de encarar o poder
pois tudo só muda primeiro em você
e quem pede ajuda não teme o perdão
vou soltar meu grito:
eu sei e acredito
apesar dos tropeços
de pagar certos preços
é na alegria que habito!”
Ah, sim! 'Mulher, Casa e Cidade' é o nome do (mais que) poeta baiano Antônio Riserio, mas isso fica para quando eu voltar da Feira do Livro de Porto Alegre, aonde faço palestra na terça-feira, dia 3.
*Texto e pesquisa de Marko Ajdaric.
[…] de todos os baianos que vão à sua sede em Nazaré. Entre outras vezes em que o citei, temos esta coluna de 31 de jan de […]